Março Roxo abre diálogo sobre a epilepsia

O mês de março é marcado pela campanha mundial chamada, Março Roxo, dedicado à conscientização e mobilização social sobre a epilepsia, uma doença cerebral crônica que, segundo a Associação Brasileira de Epilepsia, atinge cerca de 3 milhões de brasileiros, com probabilidade de chegar a 6 milhões, já que cerca de 3% das pessoas, de qualquer idade, podem apresentar os sintomas em algum momento da vida.

“A epilepsia não tem sintomas e nem causa aparentes, somente quando surge, é que é possível identificar sua causa, e entre as mais comuns estão, traumatismo craniano que provoca algum tipo de “cicatriz” cerebral, malformação do desenvolvimento do cérebro, lesões cerebrais durante o parto, uso de drogas ou tóxicos, acidente vascular cerebral (AVC), doenças infecciosas (meningite, encefalite), tumores cerebrais e esclerose mesial temporal”, explica o médico neurocirurgião, Leandro Pelegrini de Almeida.

A principal característica desta doença é a chamada crise epilética, que assim como toda a doença, pode apresentar diversas formas, possibilitando em situações distintas, modificar o funcionamento normal das células cerebrais ou o modo como estas se comunicam entre si. “Cerca de 30% da população que tem epilepsia, não consegue a recuperação total através dos medicamentos e há cirurgias que são feitas em 10% dos pacientes, lembrando que as cirurgias são aconselhadas em casos muito específicos”, explica Pelegrini.

Quais são os sinais mais comuns de uma crise epilética? – Movimentos repetitivos e involuntários; sentidos distorcidos: ouvir, ver e sentir o que os outros não percebem; perda de consciência; não responder aos comandos de forma correta; ter confusão mental; não lembrar o que aconteceu; cair de forma brusca, dentre outras.

Tratamentos – Os tratamentos mais conhecidos são à base de medicamentos que tem por objetivo, controlar as crises convulsivas, porém, como a medicina avança cada vez mais e nem sempre os medicamentos são suficientes para o controle das consequências da epilepsia, já existem tratamentos cirúrgicos que podem levar melhor qualidade de vida a estes pacientes, que representam cerca de 10% deles.

Quando a cirurgia é indicada? – A cirurgia costuma ser indicada para evitar morte súbita, evitar os efeitos colaterais do uso crônico dos medicamentos, para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, para evitar possíveis lesões físicas decorrentes das crises e para melhorar o índice entre o QI e epilepsia.

O melhor momento para o tratamento cirúrgico depende da causa da epilepsia. “Geralmente a cirurgia é indicada quando o tratamento com medicamentos não traz o resultado esperado ou quando há uma doença cerebral documentada, como é o caso de tumores, de lesões que possam provocar hemorragias cerebrais ou das lesões cerebrais congênitas”, define dr. Leandro.

A cirurgia de epilepsia consiste em ressecar a lesão cerebral responsável por desencadear as crises. As lesões podem ser originárias do curso do desenvolvimento cerebral, tumorais benignas, vasculares (Acidente Vascular Isquêmico perinatal) ou progressivas.

Quais são os tipos de cirurgias existentes? – Dentre as intervenções possíveis, as mais aplicadas são: estimulação do nervo vago – que permite reduzir a frequência e a intensidade das crises, eficaz sobretudo para crises com foco frontal, com hipotonia e quedas. A cirurgia é realizada através de duas pequenas incisões: uma cervical transversa à esquerda, para conectar os eletrodos ao nervo vago e outra próxima à axila esquerda, para acoplar o gerador de pulsos; ressecção de lesões causadas pelas crises – a cirurgia consiste em uma ressecção anatômica e funcional, geralmente englobando o hipocampo, a amigdala e o polo temporal; cirurgia de desconexão – hemisferotomia funcional A cirurgia visa isolar o córtex patológico, desconectando o lado cerebral que causa as crises ao seccionar as vias de associação inter-hemisféricas, as conexões tálamo-corticais e dos gânglios da base, as vias de projeção, como braços, joelhos e (braço anterior, joelho e braço posterior da cápsula interna) e as estruturas límbicas (fornix e amigdala).

Como ajudar quem tem crise epilética? – Cada tipo de crise epilética também deve ser tratado de forma individual no que diz respeito ao auxílio com a pessoa que sofreu tal situação. Após a crise leve, apoiar e confortar o paciente é a melhor solução, numa crise mais acentuada, tentar conversar calmamente e retornar à uma cadeira, se houver resistência, assegure-se que o ambiente está seguro, se está sentada, mantenha e observe até recobrar a consciência completamente, ajude a reorientar, se seguir confusa, não forçar e nem falar alto. Já nos casos mais graves, é preciso proteger de qualquer acidente que possa ocorrer durante a crise; deitar a pessoa de lado no chão e afastar objetos próximos que possam a atingir, para evitar que em caso de vômitos, não haja aspiração do conteúdo, proteger a base da cabeça para que não bata no chão no momento que sacudir (pode ser com a mão de quem está ajudando ou com uma roupa/pano).

Quando deve-se chamar um médico imediatamente? – Na maioria das vezes, a crise epiléptica não é uma emergência médica, pois normalmente ela se resolve espontaneamente, não requerendo atenção médica imediata. Mas, algumas considerações devem ser levadas em conta, por exemplo:se for a primeira crise epiléptica;se não recuperar a consciência depois de acabada a crise;se iniciar outra crise na sequência da primeira, sem recuperar consciência entre as duas; e a crise tiver uma duração prolongada (cerca de 5 minutos); se a crise ocorrer durante atividade aquática (pode ter ingerido água);em caso de traumatizar o crânio durante a queda ou durante a crise, deve-se acionar o serviço médico com urgência se apresentar os seguintes sinais/sintomas:dificuldade em despertar ou permanecer longo período desacordado;perda de consciência com falta de resposta à estímulos;vômitos; pupilas com tamanho diferentes; queixa de dificuldade visual, dor de cabeça após o repouso.

REPORTAGEM: Daniel Werle, assessor de imprensa freedom, especializado em saúde

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