Menina é resgatada em situação de precariedade
Ao ser tratada como uma serviçal, a Cinderela vivia entre os ratos. Nesse conto de fadas, ela era adulta e os animais eram seus amigos. Se mesmo na fantasia, com todo o encanto, é difícil imaginar um ambiente acolhedor quando envolve situações de precariedade, possíveis negligências e abandono, imagina quando isso acontece na vida real e envolve uma criança.
Sem uma ‘fada madrinha’, uma menina de apenas 4 anos foi encontrada vivendo uma história bem longe de ser um conto de fadas. Indefesa. Em meio ao lixo. Convivendo com ratos e baratas. Desnutrida e com fome. Assim, a pequena foi encontrada em uma casa no Jardim Panorama. O resgate ocorreu na segunda-feira (9) após o 19º Batalhão da Polícia Militar (BPM) receber uma denúncia da precariedade em que a criança se encontrava.
Segundo o Boletim de Ocorrências da PM, “a descoberta ocorreu após ligações de vizinhos direcionadas à Central darem conta de que uma criança estaria sendo agredida fisicamente pela mãe. Quando a criança, sozinha e sem camiseta, deslocou em direção à guarnição, foi possível verificar seus ossos em evidência, a demonstrar um quadro severo de desnutrição. Questionada se, durante o dia, havia se alimentado, disse que até o momento, havia comido apenas um pedaço de pão que havia encontrado no lixo”.
Aos policiais que atenderam a ocorrência, os vizinhos relataram que a criança vive em constante abandono. Além disso, frequentemente, a menina é vista sozinha, vagando pelas ruas sem a presença de qualquer responsável.
O Conselho Tutelar foi acionado. Os conselheiros constataram uma lesão superficial na região esquerda da face da criança. Diante dessa condição, o caso foi encaminhado a 20ª Subdivisão Policial (SDP) de Toledo para as providências pertinentes.
De acordo com o Boletim, segundo a avó, a mãe da menina é usuária de entorpecentes, e estaria “desprovida do mínimo discernimento necessário para o eficaz provimento das necessidades básicas da infante”. Assim que a equipe da PM chegou no local, a mãe tomou rumo ignorado.
O RESGASTE – “Justamente por se tratar de uma criança existe uma comoção maior, ainda mais nesse caso, em que os policiais militares puderam observar e descreveram o estado de desnutrição em que ela foi encontrada”, relata o 2º tenente, oficial de Comunicação Social do 19º BPM, Erivelton Souza Santos. “O principal ponto é que graças ao trabalho dos policiais militares, que prontamente foram até o local após receber as denúncias e os conselheiros que foram acionados e fizeram o acolhimento, essa criança agora poderá receber cuidados para preservar a sua saúde e integridade física”.
O soldado dos Anjos foi um dos policiais militares que esteve na ocorrência. Com mais de 11 anos de serviço, ele já atendeu diversas situações em que se fez necessário o acompanhamento do Conselho Tutelar, porém nada parecido com o que se deparou nessa ocorrência, em que era visível a desnutrição da criança.
O outro policial militar – com nove anos de serviço – também relatou no mesmo sentido, de que já atendeu diversas ocorrências, inclusive situações de óbito por diversos motivos, mas nada parecido com o que viram nesse atendimento específico. “Relatou que, por ter uma filha pequena, situações envolvendo crianças acabam tendo mesmo um sentimento diferente. Parabenizou a presteza e a agilidade com que foram atendidos pelo Conselho Tutelar que logo que viram a situação já iniciaram as tratativas para o acolhimento da criança”, comenta Santos.
Santos pontua que tirar a criança dessa condição trouxe muita emoção aos policiais militares que fizeram o resgate. “Esse sentimento também existe em diversas outras ocorrências que nossos policiais militares atendem e esse caso teve uma comoção maior pelo fato de envolver essa criança, que precisa ser cuidada e não estava tendo a atenção devida”, comenta ao ressaltar que a ocorrência foi acompanhado pelo Conselho Tutelar, conforme preconiza a legislação, nos casos envolvendo crianças.
SITUAÇÃO DE RISCO – Do Conselho Tutelar, quem acompanhou a ocorrência foi Alan Junior Julio. Ele conta que o órgão foi acionado pela PM por volta das 16h de segunda-feira. “Ao chegar na residência, encontrei uma criança de aproximadamente quatro anos, com uma lesão na face abaixo do olho esquerdo. A residência estava suja e apresentava odor forte. Um local insalubre para uma criança viver”.
Diante desta situação, o Conselho Tutelar entendeu que os direitos da menor estavam sendo violados e Alan afirma que foi aplicada a medida de Acolhimento Institucional, de acordo com o Artigo 101, inciso sete do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). “Quando existe uma situação de risco e a integridade física da criança está em risco, o acolhimento pode ser determinado. A criança foi retirada de um ambiente de violação de direito e foi encaminhada para a Casa Abrigo”.
A criança está sob a tutela do Estado. O conselheiro Alan comenta que a notícia foi encaminhada ao Ministério Público do Paraná (MPPR), Comarca de Toledo. O MPPR confirmou o recebimento da notícia pelo Conselho Tutelar e informou que instaurou um procedimento para averiguar a situação.
O caso segue sob sigilo. No momento, a menina segue sob os cuidados do Estado. Investigação das condições em que ela vivia seguem a tramitação pertinente para que os direitos da criança sejam cumpridos. No conto, a Cinderela teve uma oportunidade de mudar de vida. Ela teve fada madrinha. Que essa história da vida real tenha uma ‘pitada’ de conto de fadas.
Da Redação
TOLEDO