Atemporal paixão por fuscas preserva memórias

A memória afetiva em relação ao modelo de carro mais popular da Volkswagen aumenta com o passar do tempo. Comemorado há 36 anos, o dia nacional do Fusca foi instaurado em alusão ao início de sua produção no Brasil nesta data, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Para preservar e valorizar essa relíquia, a Associação Veteran Car Club de Toledo promove neste sábado (18), um encontro beneficente em prol da APA, Lar dos Idosos.

Com faróis expressivos e ronco característico, o Fusca começou a ser produzido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, por meio do uso de uma chapa de metal curvada que encurta a traseira e o capô dianteiro, proporcionando ao seu design a semelhança com um besouro. O colecionador e arquiteto Evandro Pastre relembra que “seu desenho único sempre o destacou perante os demais e continua a fazê-lo nos dias atuais”.

Ligado a um valor sentimental, a coleção de carros antigos é formada por interesse em restauração, herança familiar e por oferecer recordações da juventude. Por décadas, representou mais do que um veículo, mas um estilo de vida e a conquista por um sonho, capaz de representar mobilidade e liberdade.

Em meio a vários antigos na garagem do empresário Cézar de Césaro, está o Fusca 1300. Ele relembra: “é prazeroso voltar no tempo, sentir as sensações de outra época e, principalmente, reavivar boas memórias que tornam saudade e uma ferramenta de prazer e felicidade”.

O baixo consumo de combustível e a alta resistência mecânica sempre atraiu milhares de pessoas para o clássico da “Volks”. Foram fabricadas 3,3 milhões de unidades no Brasil, entre 1959 e 2003, sendo líder de vendas no país ao longo de 24 anos. Em seu ápice, foi responsável pela venda de 30% da frota nacional. Dentre o clássico, estão quase dois milhões ainda em circulação.

O engenheiro civil Ernani Magnabosco é proprietário de um modelo de 1975 e destaca: “ele era um carro muito popular, destinado ao trabalho. Devido sua facilidade, mecânica e resistência, era adequado para estradas de chão e para quem estava começando. Então, para vários profissionais, esse foi o primeiro carro”.

Com apenas 11 anos de idade, Evandro aprendeu a dirigir um Fusca, em meio as idas e vindas ao acompanhar seu pai no trabalho, no interior do município. O arquiteto ressalta: “Minha admiração pelo Fusca foi aumentando à medida que conhecia sua mecânica simples e básica. As boas soluções nele empregadas, em uma época de muita escassez de tecnologia, sempre me chamaram atenção”.

Cuidados preventivos fazem parte da manutenção do veículo, como a importância de um bom lugar para abrigá-lo e de oferecer o acompanhamento de mecânicos experientes, aficionados por carros antigos. Ao contrário dos automóveis atuais, geralmente esses “velhinhos” são usados aos finais de semana para pequenas voltas, afim de evitar que “atrofiem”.

Para Ernani, este não é um carro para fazer longas viagens: “apesar do pessoal fazer passeios de 600 km, este é um carro de passeio aos finais de semana, para ir a encontros de antigomobilismo e para fazer amizades”, embora há controvérsia entre os colecionadores que gostam de longas distâncias. Já o arquiteto complementa: “é relevante citar a importância de utilizar estes carros, pois na garagem não fazem história”.

Preservar a memória, muitas vezes, exige restauração. “Não é fácil para o pessoal recuperar um carro como esse. É preciso ter capricho acima de tudo, como ter uma tinta, verniz e produtos de qualidade”, afirma o engenheiro. Para restaurar o fusca, Evandro conta que a ação levou um ano: “foi um período de muito garimpo por peças originais e raras, visto que ele é um modelo monocromático com a fabricação de poucas unidades entre 1961 e 1962. Em busca por um modelo verde, quando vimos o anúncio nos encantamos, mesmo sabendo que teríamos que restaurá-lo. A gente brinca que cada centavo investido vale a pena”.

SUA HISTÓRIA – Nos Estados Unidos, é chamado de Beetle; na Alemanha, de Käfer. Já em Portugal, recebe o nome de Carocha, enquanto Vocho é seu nome no México. Na Itália, foi nomeado de Maggiolino e, na França, de Coccinelle. Já no Brasil, recebe vários apelidos carinhosos: fuque, fuca, fusquinha e até mesmo fuscão. Independente de como queira chamá-lo, durante seus 60 anos de produção mundial, foram vendidos 61 milhões de unidades.

O velho besouro foi encomendado por Hitler em 1936 ao engenheiro automotivo Ferdinand Porsche. Além de servir para a guerra, um dos seus objetivos era  torná-lo o carro do povo. Portanto, deveria ser acessível e barato, com valor inferior ao de uma motocicleta. Afinal, até então, o país possuía o pior índice de motorização da Europa.

Apesar da sua origem, o veículo tornou-se um sucesso comercial entre os países democráticos que respeitam os direitos humanos. Teve também um papel importante para o acesso ao mundo automotivo nos países de economia emergente, democratizando então o seu acesso à população. 

Mesmo em meio as dificuldades técnicas de produção, algumas das exigências é que fosse um automóvel pequeno, com bom desempenho e confiabilidade, o que exigiu novas tecnologias e soluções inteligentes nos anos 30, cuja qualidade elevada os mantém em funcionamento até hoje.

Associação Veteran Car

A informalidade da reunião do encontro no município originou o Veteran Car Club de Toledo, em 2019. Ele é composto por 85 sócios, totalizando mais de 120 veículos, sendo que, deste total, 38 são fuscas. O presidente da associação compartilha sobre a importância do grupo: “queremos ser a casa do antigomobilismo e das suas variadas conformações estéticas e mecânicas, que vão formar padrões e unir pessoas que se respeitam, se ajudam, que promovem eventos relacionados ao tema, que valorizem a cultura do automóvel e ajudam a comunidade através de atos sociais”.

O grupo surgiu pela necessidade de aperfeiçoar o encontro anual de carros antigos, do qual vai para a quarta edição em junho de 2025. Cézar de Césaro, esclarece: “a formação da associação era necessária por conta da responsabilidade civil e respeito pelos nossos associados, patrocinadores e investidores”.

Encontro de fuscas

O encontro de fuscas acontece neste sábado (18), na APA Lar dos Idosos do Jardim Porto Alegre, a partir das 13:30h. Promovido pela associação Veteran Car Club de Toledo, é um evento beneficente em prol do asilo. Para participar, é necessário doar fraldas geriátricas ou produtos de limpeza.

Da redação

TOLEDO

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