Pela 1ª vez , Isabelita dos Patins não poderá trabalhar neste carnaval
Jorge Omar Iglesias, o artista argentino naturalizado brasileiro que dá vida à drag queen Isabelita dos Patins, é uma personalidade símbolo do carnaval, da cena drag e da cultura brasileira, reconhecimento que lhe rendeu o título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro.
A paixão pelo Brasil surgiu ainda na infância, na Argentina, quando presenteado com um cartão postal com paisagens brasileiras por seu pai, trabalhador dos Correios. Ao ganhar aquele cartão, o pai logo desanimou o menino afirmando que jamais teriam condições de ir ao Brasil, por serem muito pobres. Orientado por esta paixão, Jorge conseguiu um emprego no Consulado Brasileiro em Rosário (Argentina), dos 14 aos 21 anos. Lá, iniciou servindo café e foi crescendo na carreira administrativa. Depois de prestar o serviço militar, voltou a procurar o Cônsul brasileiro para pedir uma carta de recomendação. E finalmente mudou-se para o Brasil em 1970.
Mesmo com as dificuldades físicas para patinar atualmente, com intensas dores articulares e musculares, Jorge relata que bastava colocar sua maquiagem para que tais dores fossem embora, sempre motivado pela alegria de entreter e divertir as pessoas. “Fazer o público sorrir e receber em troca tanto carinho dos brasileiros é o que me dá forças para continuar levando a Isabelita para a rua, para o carnaval, festas e eventos”, conta o artista.
No entanto, com o calor excessivo que vem assolando a cidade, em mais de uma ocasião Isabelita passou mal com crises de suor, picos de pressão e desmaios, levando à sua hospitalização, inclusive durante viagens à trabalho.
Isabelita dos Patins, que foi homenageada recentemente com uma aparição na novela Travessia, de Glória Perez, depende do atendimento do SUS para cuidar da saúde. “Eu não tenho plano de saúde. O que eu tenho são bons amigos everdadeiros anjos. Sou sempre atendido com muito carinho no posto de saúde. Mas sofri um infarto há 11 anos e sei que preciso ser prudente. Até para caminhar já preciso ir mais devagar, imagina então para patinar? Diante desta dificuldade, pela primeira vez em 53 anos de carreira, terei que pendurar meus patins durante o carnaval”, lamenta o artista.
Além das contratações de performances e aparições em época de carnaval, que representam 6 meses de subsistência para o artista, para complementar sua renda, Isabelita abria aos sábados sua barraquinha na Feira de Antiguidades da Praça XV, no Rio de Janeiro, onde vendia lembrancinhas estampadas com o rosto de sua personagem como bonequinhas, canecas, garrafas, imãs de geladeira entre outros artigos temáticos da drag queen. Porém este ano, além da impossibilidade da permanência de Isabelita em locais de calor excessivo, a realização da feira está afetada pelas interdições de vias para os ensaios e saídas dos blocos de carnaval de rua. Jorge planeja em breve, por necessidade, colocar à venda as obras de arte dedicadas à Isabelita dos Patins e outros itens de seu acervo pessoal. Além disso, o artista plástico Humberto de Castro construiu uma escultura de arame, representando Isabelita dos Patins em tamanho real, e colocou a obra à venda para ajudar a drag queen.
Desde o comunicado de Isabelita em suas redes sociais sobre os problemas de saúde que a impedirão de trabalhar no carnaval pela primeira vez em 53 de carreira, seguidores e amigos desejaram ajudá-la por meio de doações via pix, este que foi disponibilizado pelo artista: 21 9 9661 8932, titularidade de Jorge Omar Iglesias.
Para os artigos de sua barraquinha na Feira de Antiguidades, Isabelita não dispõe de uma plataforma de e-commerce. Mas na ocorrência de algum pedido, se enviavam as lembrancinhas para todo o Brasil, explica: “Até para os envios e para a ida à agência de correios para postar as encomendas, agora eu preciso de ajuda. Eu agradeço toda forma de apoio neste momento de dificuldade, mesmo que seja apenas uma doação simbólica. O meu trabalho e o contato com o público brasileiro me alimentam economicamente e afetivamente. Por menor que seja a quantia doada, só de ser lembrado e receber o carinho das pessoas enquanto preciso ficar de repouso, enchem meu coração de alegria. Me dá a esperança de logo me recuperar e poder voltar às ruas e aos palcos, junto desse público que me quer tão bem. E mesmo com todas as dificuldades, eu posso dizer que sou muito feliz aqui no Brasil…”