Pesquisadores da UNILA participam de expedição do Ipea em Roraima e na fronteira com Venezuela e Guiana
O objetivo foi apresentar dados preliminares de pesquisa do Ipea sobre o acelerado crescimento do comércio exterior de Roraima e a importância dos países vizinhos nesse processo
Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) vem sendo realizada com a participação do docente do curso de Ciências Econômicas da UNILA Luciano Wexell Severo e do egresso do curso e também mestre do Programa de Pós-Graduação em Economia Helitton Christoffer Carneiro. Eles participaram da expedição promovida pelo Ipea no início de dezembro ao estado de Roraima, com o objetivo de apresentar para as autoridades da região os dados preliminares da pesquisa que está sendo realizada a respeito do acelerado crescimento do comércio exterior do estado nos últimos anos.
As análises da pesquisa abordam as relações econômicas, sobretudo em relação ao comércio, à produção e à infraestrutura. De acordo com Luciano Severo, os países vizinhos Guiana e Venezuela são considerados de grande relevância para a economia daquele estado brasileiro. O docente enfatiza que a equipe busca identificar atividades econômicas que promovam intercâmbios com a Guiana e que contribuam para a criação de uma agenda positiva para o restabelecimento das relações diplomáticas com a Venezuela. O grupo de pesquisadores é coordenado pelo técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Assuntos Internacionais do Ipea, Pedro Silva Barros, e pelo professor Cristóvão Henrique Ribeiro da Silva, da Universidade Federal do Acre (UFAC).
Destaques da região analisada
O pesquisador da UNILA afirma que houve uma estagnação nas economias do mundo todo – o que afeta a produção, o emprego, os salários e a qualidade de vida das populações –, mas que, por outro lado, alguns estados do Brasil estão avançando na contramão desse cenário, apontando entre eles os que estão nas regiões de fronteira com os países vizinhos. Dessa forma, pesquisadores ligados ao Ipea têm participado de visitas de campo nos estados do oeste brasileiro, conhecidos como “articuladores” e que devem servir de ponte para a integração.
“Roraima tem ainda mais destaque por estar relativamente isolado do restante do Brasil e por fazer fronteira com a Venezuela e com a Guiana. A economia venezuelana cresceu mais de 10% em 2022, depois de anos de encolhimento, resultante das sanções impostas pelos Estados Unidos. A Guiana é o país da região que mais cresce, apresentando índice superior a 55% em 2022, graças às recentes descobertas de petróleo. O cenário é muito propício para começar 2023 acelerando as agendas de integração regional”, ressalta Luciano Severo.
Entre as atividades realizadas pelos pesquisadores nesta expedição, destaca-se uma reunião com o governador de Roraima, Antonio Denarium, e o seu secretariado; e a participação deles em uma audiência pública no plenário da Assembleia Legislativa do Estado. O grupo do Ipea também realizou uma apresentação na Federação das Indústrias do Estado de Roraima (Fier), com a participação de empresários e representantes do governo estadual. Ainda na capital Boa Vista, os especialistas fizeram uma visita à empresa Roraima Energia, responsável pela distribuição elétrica no estado.
Região de Ilha das Guianas
Já fora do território brasileiro, o grupo fez viagens por terra às cidades fronteiriças de Bonfim (Roraima) e Lethem (Guiana), e de Pacaraima (Roraima) e Santa Elena de Uairén (Venezuela). A região da fronteira trinacional, inserida na chamada Ilha das Guianas, é caracterizada pela grande biodiversidade, pela riqueza mineral e pela imensa potencialidade de geração hidrelétrica na área de confluência das bacias hidrográficas do Amazonas e do Orinoco.
Os pesquisadores apontam, também, que outras marcas dessa área são o drama do garimpo ilegal, os conflitos nas áreas indígenas da Raposa Serra do Sol e, mais recentemente, os intensos fluxos migratórios de venezuelanos. Severo destaca que, nos anos 1990, os governos do Brasil e da Venezuela promoveram uma importante agenda de integração bilateral, que incluiu a pavimentação da BR-174 e a interconexão do complexo hidrelétrico venezuelano com Boa Vista. Nos anos 2000, o Brasil pavimentou a BR-401 de Roraima – desde Boa Vista até o município de Bonfim – e a fronteira com a Guiana, assim como inaugurou a ponte sobre o rio Tacutu, entre os dois países. Com base nos estudos atuais, os pesquisadores estimam que, já nos próximos meses, os vínculos de Roraima com os dois países vizinhos sejam potencializados.
Os resultados finais da pesquisa serão agrupados em um livro sobre as relações econômicas de Roraima e as conexões do estado com o Caribe, seja pela tradicional rota via Venezuela ou pela nova estrada que está sendo pavimentada na Guiana. Nos últimos anos, o grupo de pesquisadores vem participando de encontros e publicando artigos técnicos sobre a integração da América do Sul por meio da chamada Rede de Caminhos Bioceânicos. Esses trabalhos têm sido amplamente difundidos pela Associação Latino-americana de Integração (Aladi), pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) das Nações Unidas e pelo próprio Ipea.
Assessoria UNILA