Campo sofre prejuízo com apagões frequentes na Região Oeste
Da Redação*
TOLEDO
Produtores rurais de todas as regiões do Paraná amargam prejuízos em razão de quedas recorrentes no fornecimento de energia elétrica ou de oscilações na tensão da rede. Os danos envolvem a morte de animais, perdas de produção ou até a queima de equipamentos. Produtores, Sistema Faep/Senar-PR e Sindicatos Rurais buscam providências para essa situação.
Nos últimos meses, o sistema Faep/Senar-PR recebeu dezenas de ofícios de sindicatos rurais e núcleos de sindicatos relatando as quedas de energia elétrica. Os documentos relatam os problemas enfrentados por produtores. Os ‘apagões’ são obstáculos para quem produz, mas com impactos que se refletem na economia do Paraná.
Em uma entrevista, o presidente do sistema Faep/Senar-PR Ágide Meneguette relata que a energia elétrica é um dos insumos mais importantes da produção agropecuária. “Os problemas no fornecimento afetam diretamente a nossa força produtiva e, em consequência disso, prejudicam a economia do Paraná. O sentimento manifestado pelos produtores rurais é de completo abandono”.
IMPACTOS – Outro problema sentido reiteradamente pelos produtores rurais são as quedas de energia. No último quadrimestre de 2023, houve mais de 38 mil interrupções de distribuição de energia registradas no Paraná, aumento de 23,6% em relação ao mesmo período de 2022, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em 2021, por exemplo, o produtor paranaense ficou, em média, 30 horas sem energia, enquanto esse período médio foi de sete horas na cidade.
Atualmente, a energia compõe o custo da avicultura, da suinocultura, da piscicultura e da leiteira. O piscicultor Alceu Auri Mielke afirma que existe um descaso muito grande por parte da empresa responsável por fornecer energia nos últimos tempos. “A falta de energia é em qualquer hora. Às vezes, o tempo não apresenta condição de chuva ou de vento, mas a energia cai e a luz fica piscando. Observo que existe muito problema de galhos de árvores que encostam na rede ou a rede está sem manutenção”.
Ele comenta que já chegou a ficar por 48 horas sem energia. Mielke ainda relata que o aerador queima por muitos momentos e a mortalidade dos peixes é a consequência. “Isso prejudica o desenvolvimento da nossa atividade. Às vezes, dá até um desânimo”.
OSCILAÇÕES – O Sistema Faep/Senar-PR encomendou uma pesquisa para aferir a opinião de produtores rurais do Paraná sobre os serviços prestados pela empresa responsável com relação ao fornecimento de energia elétrica no campo. A pesquisa – realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas – ouviu 514 agropecuaristas de todas as regiões do Estado, entre 26 de fevereiro e 14 de março de 2024. O grau de confiança da pesquisa é de 95% e a margem de erro é de 4,4 pontos percentuais. O diagnóstico apresenta que 40,1% dos entrevistados possuem 50 anos ou mais.
A pesquisa mostra que 85% dos entrevistados não estão satisfeitos com a estabilidade no fornecimento. O levantamento ainda revela que 38,7% sofreram mais de 20 quedas de luz nos últimos 12 meses e 50,6% ficaram, em média, mais de cinco horas às escuras a cada apagão
DIAGNÓSTICO – Dos produtores rurais entrevistados, 59,1% relataram que possuem minifúndio. A pesquisa demonstra que 58,6% dos entrevistados possuem atividades agrícolas; 33,1% pecuárias; 7,4% aquicultura e 8,4% outros ramos citados.
Os entrevistados ao serem questionados sob a satisfação dos serviços de energia elétrica 60,5% estão insatisfeitos, sendo que 39,3% somente insatisfeito e 21,2% muito insatisfeito. Além disso, 69,8% estão insatisfeitos com relação a estabilidade no fornecimento de energia elétrica. Na região Oeste, 38,4% estão insatisfeitos e 38,4% estão muito insatisfeitos.
Os dados da pesquisa ainda revelam os motivos da insatisfação com os serviços de energia elétrica, sendo que 44% dos entrevistados não estão satisfeitos com a falta constante de energia elétrica; 14% com a demora na resolução dos problemas; 12,3% com a oscilação na rede; 2,1% com o valor muito alto da cobrança; 0,4% por não ser um serviço de qualidade 0,4% e 0,2% está causando problemas ambientais.
Sobre a frequência com que ocorreram faltas de energia elétrica no último ano, 38,7% dos produtores rurais do Paraná relataram que faltou mais de 20 vezes. Na região Oeste, 48,5% dos produtores optaram por essa opção. Além disso, 50,6% dos entrevistados revelaram que o serviço de energia elétrica demora acima de cinco horas para reestabelecer. No Oeste, são 50,5%.
Com relação a danos ou prejuízos ocasionados por problemas decorrentes do fornecimento de energia elétrica, 41,6% dos produtores rurais relataram que tiveram os seus equipamentos queimados; 37,2% responderam não e 27,2% tiveram perda de produção. Na região Oeste, os dados são semelhantes ao do Paraná como todo: 44,4% apresentaram queima de equipamentos e 23,2% perda de produção.
Mais de 90% dos entrevistados informaram que entrou em contato com a Companhia para comunicar a falta de energia. Esse índice quase representa os produtores rurais da região Oeste, que totalizou 89,7%. Mas, 62,1% dos entrevistados não mantiveram contato com a Companhia para informar a ocorrência do dano ou o prejuízo. Esse dado é maior no Oeste, que totalizou 75,9%.
O levantamento dos que foram indenizados pelo dano ou prejuízo ocasionado por problemas no serviço de abastecimento de energia elétrica espontânea.
51,7% não indenizou; 20,5% ainda está em processo de análise; 13,9% já indenizou e 13,9% não solicitou indenização.
A Companha alegou para 17,2% que o problema não foi causado por eles e 12,3% ela não deu motivo e 5,7% alegou falta de documentos e provas. Entre os que conseguiram uma indenização algum dano, ou seja, prejuízo ocasionado por problemas decorrentes do fornecimento de energia elétrica, 58,8% argumentaram que o processo foi lento (29,4% lento e 29,4% muito lento).
RECOMENDAÇÃO – Dos entrevistados, pouco mais de 5% recomendaria o serviço da Companhia para um amigo ou familiar e 66,9% preferiria outra opção de empresa para fornecimento de energia elétrica na sua região.
Com relação a percepção quanto aos serviços após a privatização da Copel em agosto do ano passado, 43,6% dos produtores rurais acreditam que que os serviços permanecem iguais; 37,7% relataram que os serviços pioraram e 15,4% melhoraram. Na região Oeste, 47,5% dos produtores rurais relataram que os serviços permaneceram iguais; 33,3% afirmam que piorou e 18,2% melhorou. Sobre a percepção quanto aos valores cobrados na fatura estimulada 75,5% dos produtores consideram os valores caros e 15,8% valores adequados.
O técnico do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema Faep/ Senar-PR Luiz Eliezer Ferreira afirma que a pesquisa ajudará a traçar um diagnóstico preciso da percepção do campo em relação ao fornecimento de energia.
TRANSTORNOS – Em Toledo, os piscicultores e avicultores Marcelo Morilha Teles e Leonice Friedrich já não suportam os transtornos causados pelas quedas de energia. Entre 29 de janeiro e 5 de fevereiro deste ano, a propriedade deles – a Granja São Miguel Arcanjo – sofreu apagões diários, colocando em risco a produção de tilápias (120 mil peixes) e de frango (140 mil aves). Só não houve perda de produção porque o casal recorreu a geradores. Ainda assim, houve prejuízos: dois aeradores, duas placas de aviário e uma placa da usina fotovoltaica queimaram. Os produtores ingressaram com uma ação judicial para que a empresa responsável os indenize das perdas.
“Nos três anos anteriores, o fornecimento de energia estava complicado. Mas no último ano ficou insuportável. Eu cheguei a ficar 25 horas sem energia, com o gerador ligado. Isso em dia de céu de brigadeiro. Todos os dias, estou tendo que ligar gerador. Eu tenho usina fotovoltaica, mas dependo da rede de distribuição da Copel… Aí não adianta nada”, diz Teles. “Hoje, eu não teria feito os investimentos que fiz, se soubesse que não teria estrutura de energia para trabalhar. Temos produtores na região que perderam tudo. Eu não quero esperar perder para ficar reclamando. Por isso eu estou implorando para que melhorem nossa rede”, desabafa.
* Com informações do Sistema Faep/Senar-PR
Ranking*
A Copel caiu no ranking de desempenho divulgado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Entre as 29 distribuidoras de grande porte (com mais de 400 mil clientes) do país, a companhia paranaense ocupa o 25º lugar. Em 2021, a Copel estava na décima posição: ou seja, a empresa despencou 15 postos em apenas três anos. A classificação da Aneel leva em conta o número de quedas de energia elétrica e a duração de cada período de apagão. Dados compilados pelo Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR) mostram o aumento do número de apagões ao longo dos últimos três anos. Em 2023, o Paraná teve uma média de 30,9 mil ocorrências com interrupção de energia a cada mês. Também no ano passado, a Copel teve que ressarcir consumidores em R$ 506 mil, por falhas na tensão da rede. Entre 2011 e 2018, a média anual dessas compensações ficou abaixo de R$ 70 mil.
*Fonte: Sistema Faep/Senar-PR