Rainer Zielasko fala sobre importância do Programa Oeste em Desenvolvimento

Numa entrevista exclusiva, o atual presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD) Rainer Zielasko comentou sobre os 10 anos do programa que vem tentando contribuir para a transformação da região Oeste do Paraná num polo de desenvolvimento pleno. “Sem dúvida é motivo de comemoração”, aponta ele, lembrando que no próximo dia 27, em Medianeira, haverá uma solenidade para homenagear os pioneiros dessa ideia “e também para lembrarmos de tudo aquilo que o POD teve como participação, trazendo melhorias significativas para o Oeste do Paraná”, resume Zielasko.

No dia 27, em Medianeira, será oficializada a entrada dos conselhos municipais de desenvolvimento de algumas prefeituras. “Juntos será possível discutir temas em comum para todo o Oeste. Não adianta termos ilhas de riqueza. Isso precisa ser bem distribuído”, comenta o presidente do POD.

“Essa organização territorial, quanto mais gente estiver junto, quanto mais pessoas estiverem dando ideias, melhor será o resultado e mais assertivo nós seremos nas ações”, diz ele sobre o programa. Acompanhe os principais pontos da entrevista.

JO – Rainer, como surgiu essa ideia do Programa Oeste em Desenvolvimento? E como está o POD hoje dentro do Paraná?

Rainer Zielasko – Essa ideia surgiu através do esforço coletivo da Itaipu Binacional, do PTI, Sebrae, Amop (Associação dos Municípios do Oeste do Paraná) e Caciopar. A ideia veio de visitas feitas em outros países, principalmente Espanha e Itália, onde se percebeu que em regiões organizadas, quando havia um problema, essas regiões entravam menos na crise e conseguiam se recuperar de uma forma mais rápida quando a crise havia passado.

O Oeste do Paraná é a única do Brasil a ter esse modelo de organização há tanto tempo e hoje serve de modelo para outras regiões. Quando se fala em Conselho Municipal de Desenvolvimento todos falam em Maringá e quando se fala em desenvolvimento regional, todos falam do Programa Oeste em Desenvolvimento.

JO – Mas deve ter sido um desafio implantar isso na época?

Rainer Zielasko – A grande virtude do POD é conseguir agregar iniciativa privada e setor público na busca por soluções e não apenas apontando eventuais problemas. Até porque o programa não executa nada. Ele reúne os atores e discute o problema e busca soluções.

Foi e é um desafio muito grande em explicar a todos, primeiro o que é uma organização territorial, a importância de estarmos unidos e como fazer isso. Nessa caminhada outras entidades começaram a se unir ao POD, como empresas, cooperativas de produção, parques tecnológicos, as cooperativas de crédito, universidades. Isso deu corpo para criar as câmaras técnicas a fim de debater temas específicos. Quando um problema é identificado, ele é debatido, busca-se uma solução e ele passa a fazer parte do passado porque surgem novos temas.

JO – Qual seria um dos melhores exemplos dessa união de esforços?

Rainer Zielasko – Sem dúvida a questão do Paraná ser um estado livre de febre aftosa com vacinação, o que gerava um empecilho para vender a carne a outros mercados. Apenas 40% do mercado mundial comprava a carne paranaense. A partir do momento em que houve união, com destaque para o papel das cooperativas e o poder público, o estado passou a ser livre de febre aftosa sem vacinação e o mercado se ampliou.

E quem se beneficiou com isso? Os nossos produtores. Os frigoríficos ampliaram a capacidade de abate e a Frimesa instalou o maior frigorífico da América Latina em Assis Chateaubriand de olho nesse crescimento. Isso gerou novos empregos, novas oportunidades e o desenvolvimento da nossa região.

JO – Mas isso criou também a necessidade de mais pessoas no mercado de trabalho…

Rainer Zielasko – Isso trouxe um ‘bom problema’: a falta de pessoas para trabalharem. A partir daí se criou um Grupo de Trabalho de Empregabilidade que avançou e hoje é uma nova Câmara Técnica dentro do POD diante da gravidade do problema. Essa Câmara reúne os responsáveis pelo Recursos Humanos de 40 das maiores empresas que se encontram periodicamente discutindo a melhor forma de solucionar um déficit hoje em torno de 12 mil pessoas para ocuparem os postos de trabalho disponíveis no mercado.

Mas como trazer 12 mil pessoas sem causar um caos social, porque precisa de escola, de moradia, posto de saúde, entre outros pontos da infraestrutura básica para atender essas pessoas.

JO – E como fazer isso?

Rainer Zielasko – Daí a importância de unir as pessoas em torno de um tema. Hoje prefeituras também estão se unindo ao programa. A Prefeitura de Toledo hoje é uma mantenedora e faz essa interação entre a iniciativa privada e o setor público, por exemplo.

A importância do programa está, por exemplo, quando o Governo do Estado tem recursos para serem aplicados na região, no Oeste a sociedade organizada é consultada, através das entidades representadas no POD, e o dinheiro vem aplicado naquilo que precisamos e não naquilo que o governo acha que precisa.

Há uma melhor efetividade, um melhor resultado na aplicação do dinheiro público. É um ganha-ganha em todos os sentidos.

JO – E como os municípios menores aceitaram a ideia?

Rainer Zielasko – Dentro do POD existe uma preocupação em integrar todos os municípios, respeitando suas individualidades. Cada cidade tem suas características próprias, seus objetivos e nós não entramos nisso. O Programa Oeste em Desenvolvimento entra nos problemas que afetam a todos os municípios. Quando se fala em infraestrutura, afeta a todos os municípios; sanidade animal é para todos. Todos são envolvidos.

Hoje o Oeste é a única região que tem um Sistema Regional de Informação que se transformou no Iguassu Valley, inspirado no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Nosso programa foi premiado pela Confederação Nacional da Indústria como o melhor ecossistema de inovação consolidado e está presente em vários municípios, criando uma capilaridade.

JO – Na questão do pedágio também houve essa preocupação…

Rainer Zielasko – Sim. No pedágio houve uma luta intensa em não aceitar o modelo proposto. Mudou-se o modelo, se não é o melhor, é o mais adequado para a região, com um custo menor, em torno de 50% menor que o valor que era pago anteriormente. Isso afeta a todos e todos são bem representados.

Hoje temos um Conselho de Administração composto por mais de 60 entidades, com as universidades presentes graças a um convênio com a Fundação Araucária. Isso cria uma rede de trabalho sustentável e coordenada por todas as forças vivas com um único objetivo que é transformar a região naquilo que pensamos ser o melhor

JO – E o futuro Rainer? Qual o desafio do POD daqui para frente?

Rainer Zielasko – Olhando para frente o Programa Oeste em Desenvolvimento tem desafios e um dos mais importantes que é a questão da inovação e tecnologia. Ninguém vai tirar a característica nata do Oeste do Paraná em ser um grande produtor de proteína animal. Podemos duplicar, triplicar essa produção e nos tornarmos uma referência mundial na produção de proteína. Para isso precisamos evoluir em inovação, tecnologia e conhecimento.

Temos a necessidade de escolas que formem essa nova geração com essa capacidade e precisamos implantar atrativos para reter esses futuros profissionais na região. O Biopark vem investindo neste sentido.

Existe ainda uma preocupação com o meio ambiente e a destinação adequada dos dejetos, transformando esse material em bioenergia, em biogás, biometano, em hidrogênio, que é uma fonte de riqueza muito grande e que precisa evoluir muito, mas com equilíbrio ambiental. Estamos trabalhando nessa linha a longo prazo e tudo está projetado para os próximos 20 anos pensando em fazer do Oeste uma região ainda melhor.

Márcio Pimentel

Da Redação

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