Salvar vidas: família de outro país fala ‘sim’ para doação de órgãos

Para salvar vidas não existem fronteiras. O corpo humano e suas necessidades é o mesmo independente do país. Na manhã de terça-feira (22), os integrantes da os profissionais da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Hospital Bom Jesus – com o apoio da rede de profissionais habilitados pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) – realizaram, pela primeira vez, a capitação de órgãos de um paciente com dupla nacionalidade.

O coordenador da Cihdott, Itamar Weiwanko, relata que a doadora era uma mulher de 41 anos que sofreu um aneurisma cerebral, teve complicações e morte encefálica. Após passar por todos os exames previstos no protocolo foi confirmada a morte encefálica e iniciado o processo de contato com os familiares para possível doação dos órgãos.

“Foi a primeira vez que ocorreu a captação de órgãos de um doador com documentação de outro país, com dupla nacionalidade. Isso gerou um pouco mais de burocracia para atender toda a parte legal, mas foi possível. Ocorreu que uma das pessoas que poderiam autorizar possuía RG brasileiro e nessa transferência para o Brasil saiu com dados alterados e isso dificultou o processo; contamos com a ajuda da família, dos profissionais de Cascavel e de Curitiba da Sesa”, relata.

Weiwanko conta que era uma paciente que veio transferida de outro município. “Ela tinha dupla nacionalidade (paraguaia e brasileira), contudo, os familiares que podiam autorizar a doação residem no Paraguai”, conta Weiwanko ao citar que os filhos vieram até o Bom Jesus, receberam todas as orientações, esclareceram as dúvidas e optarem pela doação.

QUANDO A FAMÍLIA DIZ SIM – Com a confirmação do óbito e a possibilidade de ser uma doadora em potencial, os filhos tiveram que vir até o Hospital Bom Jesus para poderem legalizar o processo de doação dos órgãos. O coordenador da Cihdott, destaca a importância do sim dos familiares.

É doloroso receber a notícia de que um familiar teve morte encefálica. Ao passar por essa situação o sentimento de angustia toma conta dos corações dos entes queridos. O processo de abordagem, para possível captação de órgãos, ocorre durante um momento de tristeza, por isso, os profissionais precisam estar bem preparados.

A abordagem da equipe acontece somente após serem concluídos os protocolos pré-estabelecidos pelo Estado. De acordo com o profissional, o Paraná tem um dos protocolos mais rígidos em relação ao diagnóstico de morte encefálica.

Os principais impedimentos estão relacionados a falta de conhecimento sobre a vontade do ente querido e os procedimentos da captação dos órgãos. O desejo da família é respeitado. A diferença entre doar ou não doar é saber que pessoal especial partiu, mas um ‘pedacinho’ dela pode salvar outra vida.

SALVAR VIDAS – “Foram captados os rins, o fígado e as córneas. A doação vai ajudar a salvar cinco vidas. São cinco pessoas, cinco famílias que recebem a oportunidade de recomeçar devido ao sim desses familiares”, explica Weiwanko ao pontuar que não é o Hospital Bom Jesus que define a destinação dos órgãos.

O coordenador reforça a importância em falar sobre o assunto, pois quando isso é discutido em família diante de uma situação dessas será possível atender o desejo do ente querido. “O sim para captação de órgãos é a chance que muitos precisam. No Paraná, mais de 2.600 pacientes estão na fila de espera. Infelizmente, qualquer um pode precisar um dia”.

Diante do ‘sim’: Hospital Bom Jesus mantém média de conversão

Com atuação em destaque, os profissionais da Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (Cihdott) do Bom Jesus estão conseguindo manter uma média de 95% de conversão nos últimos sete a oito anos; isso representa o sim de diversas famílias, mesmo em um momento de dor, um sim que leva um sopro de esperança e de vida para aqueles que aguardam na fila.

O Bom Jesus é referência na captação de órgãos. No ano passado, ocorreu o registro de 17 potenciais doadores, com 17 doações confirmadas o Bom Jesus teve 100% de conversão, ou seja, as famílias abordadas autorização a captação dos órgãos e disseram sim. O BJ tem conseguido manter a média de 94 a 95% de conversão (situações em que as famílias optam pela doação) e essa adesão é reflexo do trabalho realizado com comprometimento por todos os envolvidos.

O coordenador da Cihdott, Itamar Weiwanko, cita que com a doação de terça-feira (22), neste ano, foram realizados 15 protocolos e 14 doadores. “Tivemos uma queda no semestre de 2022, isso é justificado pelo fato de ter menos situações de morte encefálica”.

Um dos principais desafios dentro da Cihdott, segundo o coordenador, é realizar a abordagem familiar, pois quem tem essa prerrogativa é a família. “Sem o sim não tem a captação, não tem o transplante, não tem a chance de vida para quem está na fila de espera por um órgão”, enfatiza ao salientar que optar pela doação é um ato de nobreza, de amor ao próximo, é um gesto que pode permitir que aquela pessoa na fila da espera tenha qualidade de vida, tenha a chance de manter a vida. “Nossos agradecimentos aos familiares que colaboraram no processo de doação de órgãos e falam sim”, finaliza.

PROTOCOLO DE MORTE ENCEFÁLICA

A morte cerebral, infelizmente, é irreversível. Uma vez constatada a morte encefálica, os familiares do paciente são informados e devem tomar a decisão de doar ou não os órgãos do ente querido. São necessários exames clínicos realizados por médicos diferentes, para confirmar a ausência permanente de função do tronco cerebral; um teste de apneia, para comprovar a ausência de movimentos respiratórios; e um exame complementar para confirmar a ausência permanente de função cerebral. Os critérios da Resolução CFM 1.480/1997 confirmam a segurança, o grau de absoluta certeza e a ampla aceitação desta metodologia para determinação inquestionável da morte.

Da Redação

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