Tese trata do aproveitamento do biogás gerado a partir da indústria cervejeira

Você que gosta de tomar uma geladinha no final de semana, já parou para pensar que as indústrias cervejeiras processam grande quantidade de resíduos orgânicos em seu processo de fabricação e que estes resíduos têm potencial de serem utilizados para produção de biogás? E que isso possibilita a otimização de processos para um melhor aproveitamento energético, além de diminuir o impacto ambiental? Essa inquietação fez parte de uma pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, cuja tese foi defendida por Leonardo Pereira Lins, o primeiro a conquistar o título de doutor na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), considerando-se tratar de um programa próprio da instituição.

A tese intitulada “Produção e aproveitamento do biogás gerado a partir de resíduos da indústria cervejeira” foi defendida na semana passada e teve a orientação de Janine Padilha Botton e coorientação de Andreia Cristina Furtado. A pesquisa levou em consideração a possibilidade de aproveitamento energético de resíduos orgânicos gerados no processo de fabricação em cinco cervejarias nas regiões Oeste e Centro-Oriental do Paraná. Dessa forma, verificou o potencial energético para a produção de biogás e metano, a partir de amostras de bagaço de malte e de efluentes líquidos originados dessas cervejarias, que correspondem a 85% do volume desses resíduos.

Os ensaios realizados no Laboratório de Biogás do Centro Internacional de Energias Renováveis – localizado no Parque Tecnológico de Itaipu – mostraram que uma determinada amostra entre as que foram analisadas apresentou capacidade de produção de 141 m3 de biogás e 75 m3 de metano para cada tonelada de substrato. Leonardo explica que, com base nos resultados desses ensaios, foi realizado um cálculo do potencial de geração de energias e que, muitas vezes, os resíduos dispensados sem tratamento no meio ambiente podem se tornar matéria-prima para produção de biogás, podendo retornar para a indústria como forma de calor, eletricidade e combustível. Também há a possibilidade de serem usados na produção de insumos, como na recuperação do dióxido de carbono durante a purificação do biogás para obtenção do biometano.

O pesquisador aponta, também, que foram feitas análises de uma amostra de codigestão, que se constitui na mistura de dois ou mais resíduos que têm a possibilidade de fazer um melhor aproveitamento dos substratos para a produção do biogás. Ele considera satisfatórios os resultados alcançados na pesquisa. “Pudemos estimar o potencial do aproveitamento energético desses resíduos, tanto do bagaço de malte, do efluente e também da codigestão, e todos esses mostraram bons valores para produção de energia, além desses processos auxiliarem no atendimento de questões sociais, ambientais e econômicas que estão descritas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU)”, destaca ele.

PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE – Outro ponto que ele considera relevante é a necessidade de pensar na utilização de resíduos gerados em diversos processos industriais, não somente os das cervejarias. Ele aponta que, em um levantamento realizado para a pesquisa, verificou a preocupação de indústrias de grande porte em tratar o material dado como resíduo, a exemplo do bagaço de malte, e dar um destino ambientalmente adequado para ele. Para o pesquisador, muitas vezes as indústrias têm que tratar esse material, pagar para dar o destino adequado ou então doá-lo. Nesse último caso, ele dá o exemplo de produtores de bovinos, que utilizam os resíduos orgânicos para servir de ração para os animais.

“Para as indústrias, independentemente do porte, a produção de resíduos é um grande problema. Eu acredito que é importante o aproveitamento energético de resíduos orgânicos não só das cervejarias, como também de outras indústrias, como a leiteira, da suinocultura, de efluentes líquidos provenientes da produção de mandioca e outras. Então é importante a pesquisa sobre esses resíduos orgânicos, para avaliar se eles têm potencial de serem utilizados para a produção de biogás e, com isso, ter aproveitamento energético, seja para geração de energia elétrica, térmica ou de biometano”, defende o pesquisador.

Leonardo Pereira Lins trabalha como analista ambiental na CIBiogás e sua formação acadêmica compreende graduação em Engenharia Ambiental, especialização em Gestão Ambiental em Municípios e também em Energias Renováveis com Ênfase em Biogás e mestrado em Tecnologias Ambientais. A partir de agora, ele é o primeiro doutor em Energia e Sustentabilidade formado na UNILA.

FOZ DO IGUAÇU

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