Toledo poderá ter a maior planta de combustível sintético e sustentável do mundo

O desenvolvimento sustentável do Oeste visa a preservação do ecossistema e atendimento das necessidades humanas. Ou seja, os recursos naturais explorados de modo sustentável durarão para sempre e com condições de também serem explorados pelas gerações futuras. Exemplo é a corrida para substituir os combustíveis fósseis. Existe um candidato que não utiliza o petróleo e potencializa o ganho ambiental, trata-se do combustível sintético. Ele é considerado mais sustentável, porque usa o gás carbônico, responsável pelo aquecimento global e pode ser utilizado em caminhões de transporte rodoviário ou em aviões.

O diretor do Programa Oeste Sustentável, Neudi Mosconi, explica que o combustível sintético é uma nova matriz econômica com grande importância ambiental, social, empresarial e sustentável. “Para o Paraná e, principalmente, a região Oeste, trata-se de um ganho ambiental extraordinário, pois pode auxiliar na produção de proteína ambiental”.

Mosconi salienta que unidades de produção de proteína ambiental estão sendo implementadas na região. “É preciso compreender que nas plantas serão adicionadas microorganismos, os quais consomem o material orgânico do dejeto e, por consequência, produzem o biogás”, explica.

A região Oeste possui um elevado volume de escala de biomassa. “Ao realizar o processo de purificação do biogás é possível implementar a unidade da produção de combustível sintético”, explica Mosconi ao exemplificar que a refinaria de combustível sintético é semelhante a uma convencional. A diferença é que o produto utilizado é da cadeia animal.

IMPLANTAÇÃO – O contrato de Parceria Público Privada (PPP) foi firmado no dia 16 de janeiro entre a GIZ – Alemanha com a Me Le Biogás GMBH Alemã e as cooperativas Ambicoop e Coopersan. A PPP envolve estudos e atividades na ordem de 2,36 milhões de euros devendo ser finalizados até dezembro de 2023. O documento está assinado e encontra-se em fase de estruturação de licitação para a contratação dos serviços.

Mosconi destaca que existe mais um pedido que está sendo analisado e a previsão é que nos próximos meses aconteça a liberação de recursos financeiros. “Será possível contratar equipes, como topografia, sondagem, para desenvolvimento dos projetos e implementação de toda a cadeia e infraestrutura necessária do programa”, enfatiza o diretor.

Ele complementa que o local de instalação da refinaria sintética está em fase de análise. A certeza é que a refinaria será instaurada em Toledo. “Por sua vez, as unidades de produção de biogás – que serão instaladas – nos municípios de Toledo, Nova Santa Rosa, Quatro Pontes, Pato Bragado, Marechal Cândido Rondon e Entre Rios do Oeste repassarão os dejetos dos suínos para a produção do combustível”.

COOPERATIVAS – Para melhor organização do trabalho cada município terá uma cooperativa. Toledo e Nova Santa Rosa já possuem as cooperativas constituídas, são elas: Cooperativas Ambicoop de Toledo e Cooperativa Coopersan de Nova Santa Rosa.

Em Marechal Cândido Rondon e Quatro Pontes, elas estão em processo de organização. Por último, Pato Bragado e Entre Rios do Oeste iniciaram as tratativas com os órgãos municipais.

Conforme Mosconi, esse processo de composição da cooperativa em cada município deve ser finalizado até agosto deste ano. Já, o diagnóstico das biomassas em todas as regiões deve ser finalizado até novembro de 2023. Atualmente, 35% do diagnóstico está concluído. Com a liberação de recursos da Alemanha, novos apoios financeiros para o Programa de Hidrogênio Verde no Oeste do Paraná deverão ser anunciados nos próximos 90 dias.

A expectativa é concluir a infraestrutura da refinaria até o ano de 2027. A produção está estimada em 100 mil toneladas de combustível sintético por ano ou 275 mil litros por dia.

Na primeira fase do programa, a população estática de suínos dos seis municípios é de 2.665.000, o que representa 38,37% dos suínos alojados no Paraná e 6,48% da população de suínos no Brasil. Com a inclusão da segunda fase do Programa Oeste Sustentável, até 2030, serão tratados os dejetos de 4.150.000 suínos, isso representará 59% da população de suínos do Paraná e 10% da população de suínos do Brasil.

Nas estimativas feitas pela empresa alemã Me Le Biogás, somente com as biomassas das atividades agropecuárias, das agroindústrias e resíduos orgânicos municipais, a região possui condição de produzir mais de 25 mil metros cúbicos de biogás por hora, disponibilizando mais de 15 toneladas de CO2/hora.

Mosconi afirma que com essa solução ao dejeto animal, o suinocultor poderá duplicar a sua produção e, por consequência, a região conseguirá atender a demanda industrial, como da Frimesa. A economia dos municípios tem uma forte dependência da cadeia de produção de proteína animal com aves e suínos representando mais de 60% do Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária da região.

REFERÊNCIA – Atualmente, a refinaria sintética prevista para ser instalada em Toledo é considerada modelo na União Europeia. “Trata-se de um projeto de extrema relevância ambiental, social, empresarial, sustentável e econômica. Já nos reunimos com o diretor do Ministério da Economia do Governo Federal da Alemanha. Aquele país precisa importar 70% da matriz energética para atender o seu planejamento”.

O Brasil é um país estratégico de energia renovável e poderá ser um grande fornecedor para o mundo. “Nós temos clima, biomassa, vontade de trabalhar e condições para transformar o passivo ambiental em uma nova matriz energética. Assim, o país atenderá o mercado local e poderá exportar”.

Hoje, em média 36% da suinocultura do Paraná está no território dos seis municípios (Toledo, Marechal Cândido Rondon, Quatro Pontes, Entre Rios do Oeste, Nova Santa Rosa e Pato Bragado). No Brasil, essa produção representa 6%. “Com a refinaria, o país cumprirá as metas ambientais sem o investimento do Governo Federal e sem o agricultor fazer a cooperação”, menciona Mosconi ao finalizar que o Brasil tem a matéria-prima e a Alemanha os recursos financeiros e a tecnologia.

PROGRAMA OESTE SUSTENTÁVEL

O Programa Oeste Sustentável é de gestão, tratamento e transformação dos dejetos e resíduos das atividades agropecuárias e das agroindústrias localizadas no Oeste do Paraná, implementado pela iniciativa privada com apoio e colaboração de instituições e órgãos públicos. No processo de desenho do programa, existe a referência na implementação de uma pequena unidade em parceria com a família Kohler, de Vila Ipiranga, interior de Toledo. Além dessa prática, também há cooperação com diversas Secretarias do Governo do Paraná para o planejamento, licenciamento do projeto-piloto da Central de Bioenergia do Rocio (Toledo), bem como da estruturação do modelo jurídico de negócios das Cooperativas de Geração de Energias Renováveis e Saneamento Rural Ambicoop e Coopersan. O Programa tem sido planejado para transformar e agregar o máximo de valor em toda a cadeia de transformação e geração, permitindo que a metodologia aplicada reduza quase a totalidade dos riscos e impactos ambientais e sociais. O conteúdo do programa proposto carece ainda de estudos, elaboração de todos os projetos executivos e licenciamentos, assim como da regulamentação dos órgãos competentes.

PROCESSO

O CO2 existente no biogás associado à mistura de H2 verde (Processo Fischer-Tropsch) e ao Biometano do processo de purificação do biogás, poderá atender quase toda a demanda de combustíveis consumidos na região dos municípios integrantes ainda na primeira parte do programa. No processo de biodigestão nas centrais, parte do biogás será utilizado na cogeração de energia elétrica e energia térmica. O restante do biogás das mais de 30 centrais de bioenergia necessárias será transportado por redes de gasodutos. Estes gasodutos conectarão todas as centrais a única unidade de purificação do biogás, separando o CH4 do CO2. OCH4 será liquefeito para exportação e o CO2 será armazenado para a utilização na unidade de produção de combustíveis sintéticos.

CRONOGRAMA

O conceito de sustentabilidade abordará e deverá nortear a maneira como devemos agir em relação à natureza e na preservação dos elementos fundamentais de produção agropecuária. Novas metodologias serão definidas na gestão e tratamento dos resíduos das atividades agropecuárias e da agroindústria como:

– De 2026 até 2033: substituição gradativa da matriz de energética na produção agrícola, com foco na substituição do diesel pelo biometano, óleo diesel sintético, gasolina sintética;

– Até 2030: toda a energia consumida nas unidades de produção de proteína animal e nas propriedades rurais deverão ser de fontes renováveis.

– Até 2033: substituição dos nitrogenados de fonte poluentes por nitrogenados verdes (amónia verde);

– De 2024 a 2030: redução gradativa dos fertilizantes químicos por fertilizantes orgânicos produzidos pelo processo de tratamento dos resíduos das atividades agropecuárias, da agroindústria e outros resíduos.

Encontro

Crédito: Divulgação

No último dia 12 de março, em Belo Horizonte, a Empresa Me Le Biogás Brasil com sede em Toledo, representada por Neudi Mosconi, com as Cooperativas de Energias Renováveis e Saneamento Rural Ambicoop e Coopersan, representadas pela Mayara Guedes da Cooperativa Ambicoop, todos os presentes receberam o convite para estarem com Christian Storost, do Ministério Federal Alemão de Economia, e da Agência alemã GIZ, para apresentar e discutir os detalhes da estruturação e implementação do Programa de Saneamento Rural e Biogás – Oeste Sustentável. Christian Storost é do Governo Federal alemão, do Ministério de Assuntos Econômicos e Proteção Climática. Ele é diretor da divisão de fomento de instrumento para o mercado de hidrogênio. Sua divisão é responsável pelo comissionamento do programa H2UPPP, que através da GIZ está apoiando financeiramente o Programa Oeste Sustentável, através de PPP.

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