Psicoterapia auxilia no tratamento do Transtorno Bipolar

Estimated reading time: 5 minutos
30 de março celebra o dia mundial do transtorno bipolar. Para combater a desinformação e os estigmas, a data é marcada pelo dia do nascimento do artista Vincent van Gogh, gênio holandês portador da doença. De forma equivocada, muitas pessoas banalizam os sintomas, reduzindo apenas a ‘estar feliz ou triste de uma hora para outra’. No entanto, os sintomas e o sofrimento psíquico dos pacientes vão além.
De acordo com a psicóloga Jaqueline Cristina Moretto, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental, as fases do transtorno bipolar afetam de formas distintas as emoções e comportamentos. Os períodos são divididos entre mania / hipomania e depressão. “A fase maníaca caracteriza-se por um estado de humor persistentemente elevado, expansivo ou irritável, acompanhado por um aumento significativo da energia e da atividade dirigida a objetivos. Durante esse período, observa-se uma redução acentuada da necessidade de sono, com indivíduos frequentemente dormindo apenas 3 a 4 horas por noite sem relatar fadiga, quando o recomendado seria de 6 a 8 horas”, pontua.
Outros sinais da fase maníaca são a aceleração do pensamento, loquacidade, aumento da autoestima ou grandiosidade e comportamentos impulsivos, como gastos compulsivos e envolvimento em situações de risco. “A desinibição e a diminuição da percepção de risco podem comprometer o funcionamento social, profissional e financeiro do indivíduo”, alerta a psicóloga.
Já a fase hipomaníaca apresenta sintomas semelhantes, mas de menor intensidade. “A principal diferença entre mania e hipomania reside na duração e no impacto funcional. Enquanto a mania tende a ser mais breve e intensa, a hipomania pode durar meses e costuma passar despercebida.”
Por outro lado, a fase depressiva tende a ser marcada por um profundo sentimento de tristeza, desesperança e apatia. “A energia é severamente reduzida, o que pode resultar em lentificação do pensamento, da fala e dos movimentos. O isolamento social e a hipersonia, quando o paciente dorme por mais de 10 horas, são comuns”, destaca Jaqueline. “Além disso, é preciso atenção redobrada para a ideação suicida e os pensamentos auto lesivos, que apresentam alta prevalência nessa fase.”
BIPOLARIDADE TIPO 1 E 2 – O transtorno pode se apresentar em dois subtipos. “Ambos são caracterizados por flutuações afetivas que alternam entre episódios de euforia (mania ou hipomania) e episódios depressivos”, explica Jaqueline. A diferença principal está na intensidade e nos prejuízos gerados pelas fases. “No transtorno bipolar tipo 1, os episódios maníacos são caracterizados por um aumento significativo nos níveis de energia, euforia, irritabilidade, impulsividade e comprometimento funcional acentuado, podendo levar a comportamentos de risco. Já o tipo 2 envolve episódios de hipomania, com elevação do humor e da energia, mas com menor intensidade e impacto funcional, sem causar prejuízos significativos nas áreas social ou ocupacional.”
Ainda segundo a psicóloga, ambos os tipos também apresentam episódios depressivos, sendo que no tipo 1, a depressão tende a ser mais severa e frequente.
PSICOEDUCAÇÃO – Após o diagnóstico realizado por um psiquiatra, é necessário o tratamento medicamentoso, como estabilizadores de humor e antidepressivos. Já o acompanhamento psicológico envolve, prioritariamente, a psicoeducação. “O manejo inicial deve envolver a psicoeducação, um processo estruturado que visa fornecer ao paciente uma compreensão aprofundada sobre a natureza do transtorno, incluindo sua fisiopatologia, impacto neuropsicológico, repercussões emocionais e sociais, além das comorbidades frequentemente associadas”, detalha Jaqueline.
A aceitação do diagnóstico é um dos pontos mais delicados do processo. “É essencial promover estratégias de adaptação e enfrentamento. Em determinados casos, a psicoeducação deve ser estendida aos familiares, capacitando-os a compreender a condição e a adotar intervenções adequadas para otimizar o suporte ao indivíduo em seu cotidiano”, afirma.
A psicoterapia é uma aliada indispensável no manejo da bipolaridade. “Ela permite ao paciente identificar e compreender os gatilhos específicos que podem precipitar os diferentes episódios do transtorno”, orienta.
Segundo Jaqueline, a terapia trabalha com modelos baseados em evidências, focando na reestruturação de padrões disfuncionais de pensamento e comportamento e no desenvolvimento de estratégias de regulação emocional. “Ao proporcionar autoconhecimento e maior estabilidade emocional, a psicoterapia reduz a frequência e a intensidade das fases extremas, melhorando a qualidade de vida e o funcionamento psicossocial do paciente.”
TRATAMENTO CONTÍNUO – Embora a bipolaridade não tenha cura, o tratamento permite estabilizar o humor e prevenir recaídas. “É fundamental ressaltar que o transtorno bipolar é uma condição psiquiátrica crônica, de curso recorrente. O manejo clínico exige uma abordagem terapêutica contínua e individualizada, que combine intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas”, explica Jaqueline.
A psicóloga ainda destaca a importância de uma rede de cuidados. “O manejo eficaz exige um acompanhamento sistemático e multidisciplinar, envolvendo profissionais da saúde mental e, quando necessário, outros especialistas, para garantir um manejo integral e eficaz da condição.”
Apesar dos desafios, com o tratamento adequado e o apoio necessário, pessoas com transtorno bipolar podem alcançar estabilidade emocional, manter uma rotina saudável e desenvolver uma vida plena. O conhecimento sobre a condição, aliado à empatia e ao acolhimento da rede de apoio, é fundamental para quebrar estigmas e promover o bem-estar de quem convive com o transtorno.
Da Redação
TOLEDO