Varíola dos macacos: medidas de higiene podem auxiliar na prevenção

Uma doença erradicada, em 1980, no mundo volta a preocupar as autoridades em Saúde. Causada pelo vírus Poxvirus variolae, a varíola era transmitida de pessoa a pessoa ou por roupas e objetos contaminados. A doença teve a primeira vacina desenvolvida no mundo há 226 anos pelo médico britânico Edward Jenner.

Mas, as notícias recentes de que humanos se contaminaram com a chamada varíola dos macacos, doença que é endêmica em países africanos, tem deixado as pessoas preocupadas. Sua disseminação para países não endêmicos, como na Europa e nos Estados Unidos, causou apreensão.

O Brasil investiga, até a última terça-feira (31), quatro casos suspeitos de varíola dos macacos. Um paciente morador de Porto Quijarro, na Bolívia, que está internado e isolado em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, é quarta pessoa a apresentar algum sintoma da doença no país. Há ainda um paciente sendo monitorado em Santa Catarina, um no Rio Grande do Sul e um no Ceará.

De acordo com o médico e diretor da 20ª Regional de Saúde de Toledo, Fernando Pedrotti, a varíola dos macacos não tem a disseminação rápida como a Covid-19, contudo o contágio acontece através de contato muito próximo e, principalmente, pelo contato direto com a lesões de pele ou com roupas e lençóis contaminados.

“O que tem chamado a atenção é que tem se encontrado casos, especialmente na Europa e, não tem encontrado uma correlação entre os casos. Não tem encontrado uma ligação de um caso a outro. Se eu não consigo ligar um caso a outro, o que está acontecendo? Os especialistas ficam preocupados com a possibilidade de estar havendo transmissão comunitária dessa doença”, explica ao enfatizar que não é uma doença com potencial de transmissão respiratório como a Covid-19. Contudo, a varíola dos macacos também pode ser transmitida por gotículas expelidas na fala.

HISTÓRICO – A varíola dos macacos foi descoberta pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidos para pesquisa. O primeiro caso humano dessa variante foi registrado em 1970 no Congo. Posteriormente, foi relatada em humanos em outros países da África Central e Ocidental.

A doença ressurgiu na Nigéria em 2017, após mais de 40 anos sem casos relatados. Desde então, houve mais de 450 casos relatados no país africano e, pelo menos, oito casos exportados internacionalmente. Entre 2018 e 2021 foram relatados sete casos de varíola dos macacos no Reino Unido, principalmente em pessoas com histórico de viagens para países endêmicos.

“Essa é uma doença causada por um vírus da varíola humana, mas a varíola em humanos foi erradicada em 1980 no mundo. Então, em tese, não temos mais casos de varíola desde 1980”.

SINTOMAS – O tempo de incubação, que é o intervalo entre o contato com uma pessoa infectada e o aparecimento do primeiro sintoma, é entre cinco e 21 dias. Pedrotti lembra que os sintomas da doença são: febre, dor de cabeça, mialgia (dores musculares) principalmente dor nas costas, calafrios, cansaço e adenomegalia (aumento dos linfonodos do pescoço).

“São ínguas e esse sintoma ajuda a distinguir entre a catapora e a própria varíola. Depois que passa a febre surgem as bolhas e elas levam de uma a três dias para aparecer e costumam surgir pelo rosto e depois se espalham para outras partes do corpo. O número de lesões varia e essa erupção muda e depois vai estourar e virar uma ferida, uma casquinha e, posteriormente, uma crosta”.

O profissional enfatiza também que, de acordo com as informações médicas repassadas até então, as pessoas que foram vacinadas contra a varíola no passado, e que hoje teriam cerca de 50 anos ou mais, por conta de uma proteção cruzada contra o vírus podem conferir proteção contra a varíola dos macacos. Contudo, atualmente, o Brasil não tem mais essa vacina no seu calendário por se tratar de uma doença que foi erradicada em 1980.

PROTEÇÃO – Uma medida para evitar a exposição ao vírus é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool em gel. Não utilizar roupas que não estejam limpas e nem roupas de cama. “Como tem a transmissão também pelas gotículas, sabemos que a máscara pode ser um fator de proteção para prevenir a varíola dos macacos. Mas não parece ser a principal forma de prevenção conforme os relatos atuais”, pontua Pedrotti.

O médico e diretor da 20ª Regional de Saúde esclarece que o órgão orienta a população sobre as estratégias de prevenção da doença e, diante de um caso suspeito, as tratativas adotadas são as mesmas recomendadas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e pelo Ministério da Saúde. “Diante de uma suspeita o paciente deve ser imediatamente notificado. Isso é algo importante e fundamental. Existem os critérios de definições para enquadrar ou não o paciente como um caso suspeito da doença”.

Apesar do Paraná não ter nenhum caso suspeito da varíola dos macacos, o médico enfatiza que não pode descartar essa possibilidade. “Corremos o risco da doença chegar na nossa região, porém, vai depender de como ela vai se propagar mundo a fora. Hoje com a locomoção rápida das pessoas, não há como dizer que não existe o risco da doença chegar. Porém, precisamos ter muita clareza que é uma doença de menor potencial de transmissão, pelo o que se sabe do que a Covid-19”.

A varíola dos macacos tende a ser leve com maior número de casos entre crianças e adultos jovens. Quem tem problemas de imunidade pode ter mais complicações com a doença. O risco de óbito existe, mas é baixo.

“Vamos lembrar que é um vírus selvagem e temos que ter em mente que não é uma segunda Covid-19, não é uma situação dessa natureza. Devemos estar atentos, mas sempre com muita tranquilidade. O vírus da varíola dos macacos não tem mutações como o da Covid-19. Logo, se não tem uma mudança no padrão do vírus, a chance que ele tenha mutação e vá se espalhar passa a ser menor. O que preocupa são as possíveis aglomerações e como o vírus vai ser comportar a partir disso”, conclui Pedrotti.

Da Redação*

TOLEDO

*Com informações da Agência Brasil

...
Você pode gostar também
Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.