Vício em telas: dependência atinge os adolescentes

A fuga da realidade – por meio do uso exagerado de telas – pode esconder carências, especialmente, quando envolve os adolescentes. O uso exagerado das tecnologias tem desencadeado transtornos comportamentais neste público. Ficar horas e horas em frente as telas pode fazer com que os usuários deixem de interagem com os demais moradores da casa, deixem de fazer as refeições, entre outras ações do cotidiano, contudo, é preciso avaliar o contexto familiar.

“Precisamos lembrar que as crianças e adolescentes reproduzem muitos os comportamentos dos pais”, aponta a psicóloga clínica, Lethicia Guedes de Freitas Oliveira. “O vício nas telas além de extremamente danoso está se tornando uma repetição de comportamento como os pais de espelho ou uma fuga do mundo real”.

Lethicia alerta que pais desinteressados com a vida dos filhos, o que eles gostam, quem são seus amigos, pode acabar dando margem para outros se interessarem pelos filhos e há muitos ‘amigos’ invisíveis no mundo virtual. Ela destaca que a vida da bolha online, é muito mais interessante para os jovens, pois eles podem ser o que quiserem e esta fuga constante da realidade e dos problemas, dentro ou fora de casa, é um dano incalculável no desenvolvimento emocional e cognitivo do adolescente.

“É possível notar o aumentou e muito os casos de depressão, ansiedade e fobia social nos jovens e em muitos casos o vício da internet vem contribuindo e muito para o desenvolvimento de tais transtornos psicológicos. O ser humano procura o que é mais fácil e é muito mais fácil eu me isolar, do que aprender a me comunicar, ou cobrar a compreensão dos outros do que fazê-lo. Outro fatos preocupante é a baixa frustração em massa, pois o ‘jogo da vida real’ é difícil de mais para jogar, não tem save nem pausa quando se depara com obstáculos aparecem. E o que é muito difícil é chato, perde a graça jogar, porque gostam do fácil, do cômodo. E esta aí o grande problema da bolha digital”, argumenta.

FUGA DA REALIDADE – Todo vício, conforme a profissional, carrega uma fuga de alguma coisa ou alguém. Essa fuga é vinculada com uma dor emocional descomunal e vira vício quando a pessoa não consegue mais conciliar de modo saudável suas obrigações e responsabilidades com aquilo que lhe vicia.

“A pessoal passa a esquecer muito ou negligência os compromissos importantes, se afasta da família, amigos e vínculos sociais. Ou seja, quando o vício se torna a prioridade, passa a atrapalhar a vida social com um todo e o próprio indivíduo com relação a questões de higiene (por exemplo, o sujeito outrora era muito vaidoso e agora negligência totalmente sua vaidade). Nestas situações, fazendo uma análise psicológica é certeza que há algum transtorno psicológico envolvido, ou transtorno relacionado ao vício”, explica Lethicia ao citar que os sintomas das drogas são mais evidentes que o vício da nova droga chamada ‘internet’, mas possuem os mesmos sintomas quando o jovem está em abstinência.

PROCURAR AJUDA – A profissional lamenta o fato de que, infelizmente, muitos pais procuram ajuda quando tudo já passou muito do limite. Ela cita que o adolescente precisa ser encaminhado para tratamento psicológico com urgência, pois precisa e um psicólogo para trabalhar todas as questões familiares, compreender o histórico da mesma, auxiliar emocionalmente e sem julgamento o jovem que necessita do tratamento.

Se o psicólogo achar necessário a medicação, irá sugerir a família que também procure um psiquiatra para medicar, pois o remédio irá regular e estabilizar temporariamente, contudo, Lethicia alerta que é crucial continuar a psicoterapia, pois a medicação regula não cura, o que cura é a psicoterapia. Ela ainda acrescenta que, possivelmente, os pais também farão algumas sessões em que o psicólogo irá orientá-los sobre o que fazer e quais comportamentos devem ser inseridos para o bem-estar da família e do adolescente.

CURA DO JOVEM E DA FAMÍLIA – “A primeira coisas que eu trabalho em meus pacientes é a comunicação e regulação do sono, pois esses dois pilares são cruciais para o processo de cura do jovem e da família. Também é ensinado que há uma vida a ser vivida fora da tela, faze-lo compreender isso e instigá-lo a realizar outras atividades, ter outros hobbies. O mais desafiador é ensinar os jovens a ter autorresponsabilidade, faze-lo compreender que seu comportamento há consequências e isso o afeta diretamente e aos outros ao seu redor”, pontua.

A psicóloga cometa que tal iniciativa é ótima e precisa ser contínua, por exemplo, ter mais palestras nas escolas que abordem este tema não apenas com os alunos, mas com pais e professores. Além disso, realizar atividades práticas e criativas, como alguns jogos com o intuito de faze-los perceber que há outras maneiras de se divertir fora das telas. Porém, ela destaca que tudo isso precisa ser realizado usando a linguagem deles, compreendendo e respeitando seu processo adolescente. 

Lethicia reforça que é preciso evitar que o dano seja feito e, por isso, é preciso tomar as prevenções cabíveis. Entretanto, se o dano já ocorreu, a recomendação é que os pais, a família e os profissionais trabalhem juntos para resolve-lo e trazer qualidade de vida para o jovem. Ela destaca que há uma saída, há uma solução, mas a pessoa precisa querer.

PREOCUPAÇÃO COM AS CRIANÇAS – “O que me preocupa como profissional é saber que as crianças estão tendo acesso cada vez mais cedo com as telas, elas estão substituindo as babas, os avós e os próprios educadores: os pais que deveriam ser educadores. Esta geração foi a primeira, em séculos, que houve declínio de QI, nunca na história isso havia acontecido. Há anos, eu e muitos outros profissionais estamos avisando, estudando, mostrando dados concretos que provam que as telas precisam de limite de uso, até mesmo para os adultos. E dá-se a impressão que muitos estão em negação sobre os danos causados, sobre as consequências, pois é difícil admitir que o filho tem algum vício, isso faz com que os pais se veem falhando, mas maquiar o problema não é resolver. O filho pode ter tido este vício por negligência dos pais, mas também pode ter sido por outro motivo. Precisamos parar de procurar um culpado e tratar, curar o problema”, conclui.

Quando o vício vira doença

Os transtornos desencadeados pelo vício em telas são relativos e variam de pessoa para pessoa. Entre os primeiros sinais são: baixa estima, ansiedade, irritabilidade, prejuízos na qualidade do sono, dificuldade de socializar, podendo chegar a depressão.

Geralmente, esses sinais são percebidos pela família, amigos e colegas de escola. Somente, após outras pessoas notarem é que o adolescente irá perceber, porém existem alguns casos que ele não chega a notar e se recusa ao tratamento psicológico e psiquiátrico.

A psicóloga clínica, Lethicia Guedes de Freitas Oliveira, comenta que todo o vício que atrapalha a vida vira doença, quando não tratado corretamente. Ela cita que há uma lista extensa de consequências comportamentais diante o vício em telas.

“Podemos citar que esse vício pode resultar em ansiedade (causada pela ausência do celular ou jogo online); irritabilidade (quando ficam sem a tela possuem comportamento irritadiço ou agressivo, havendo até situações de agressão no outro, em si mesmo ou no aparelho que está manuseando); comunicação pobre (dificuldade em verbalizar o que pensa e sente com receio da punição, não sabe/consegue iniciar uma conversa com pessoas que não sejam de seu convívio ou ter uma grande impaciência, não havendo reciprocidade ou assertividade na comunicação)”, aponta.

Na lista de consequências comportamentais diante o vício em telas, segundo a psicóloga, também traz a baixa estima – não aceitação do corpo e poder camuflar isso com a criação de personagens de jogos ou ter a ‘personalidade’ que melhor agrada ou outros -, dificuldade de socializar – não conseguir ter uma conversa pessoalmente e não saber se comportar diante eventos sociais/familiares -, ausência social e familiar – não é normal o jovem querer se ausentar em toda reunião familiar/amigos e datas comemorativas – e negligenciar a higiene – ter um quarto extremamente sujo com pratos e copos usados, é um sinal grave. “Há casos piores quando o jovem chega a urinar ou defecar no próprio quarto para não perder tempo e não perder o jogo. Pois como sabemos ‘jogo online não tem pausa’.

DIAGNÓSTICO EQUIVOCADO – Em relação ao diagnóstico, Lethicia alerta que é preciso ter cuidado com pessoas que se dizem profissionais e fazem o diagnóstico errado. “Na dúvida, procure outro profissional. Não pesquise no google sobre os sintomas, procure um psicólogo ou neuropsicólogo. Pois, em muitos casos, seu filho não tem TDAH, ele não presta atenção por muito tempo por causa do vício em informações curtas. Tem muita dificuldade de esperar, não respeita processos, querendo tudo na hora, é negligente com suas coisas, perdendo-as ou esquecendo. Todos esses comportamentos podem ser facilmente confundidos com o TDAH”, pontua.

A psicóloga comenta que também pode ocorrer um equivocado diagnostico para Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Não olhar nos olhos pode ser pela inabilidade de não fazê-lo por conta do vício da tela. O adolescente não consegue ficar parado, ou mexe os dedos de modo repetitivo, por conta da falta que o celular faz e não sabe o que fazer quando as mãos estão vazias. A comunicação é falha, porque os próprios pais não estimulam ou se comunicam pelo celular estando no mesmo cômodo”, enfatiza ao reforçar o alerta de que o vício pode se tornar uma doença.

Da Redação

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