Voltada a estudantes do Estado, plataforma Leia Paraná soma 3 milhões de horas de leitura

Cada vez mais desafiadora, a tarefa de engajar o público infantojuvenil no hábito da leitura tem se mostrado missão trabalhosa para profissionais da educação. Adaptados para a internet, os jogos e os conteúdos de áudio, vídeo e texto cada vez mais curtos e de rápida assimilação têm ganhado a atenção dos jovens. Diante dessa realidade, a Secretaria de Estado da Educação lançou em fevereiro a plataforma Leia Paraná. Em dois meses, a ferramenta já totaliza 3 milhões de horas de leitura pelos estudantes.

Em formato simples e de fácil acesso, a plataforma conta com 60 títulos voltados a temas atuais, de interesse social e conteúdo inclusivo. Na seleção das obras foram considerados critérios como adequação à faixa etária dos estudantes (ensino médio e fundamental a partir do 6° ano), função social da leitura, multidisciplinaridade, diversidade de temáticas, atratividade (best-sellers e livros buscados por crianças e adolescentes), consonância com as propostas apresentadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pelo Referencial Curricular do Novo Ensino Médio.

Viabilizando o empréstimo de até três livros simultaneamente, a plataforma conta com exercícios elaborados a partir de uma matriz de referência, com objetivo de avaliar a capacidade de compreensão e análise crítica dos estudantes.

Para se ter ideia, no período de 27 de fevereiro a 22 de abril, com quase 2 milhões de livros emprestados, Leia Paraná já é utilizado por 60% dos estudantes da rede estadual e a perspectiva é de que esse percentual aumente ainda mais nos próximos meses.

No Dia Nacional da Educação, celebrado nesta sexta-feira (28), a Seed-PR põe em foco os impactos positivos da leitura a partir da nova plataforma e as atividades pedagógicas desenvolvidas em sala nestes primeiros meses após o seu lançamento.

TEMAS RELEVANTES – Jeremias se destaca entre os melhores alunos de sua sala. Amado pelos amigos e pela família, o jovem se depara pela primeira vez com o preconceito em sala de aula. No desenrolar da trama, situações expõem a presença do racismo estrutural nas falas e atitudes de algumas crianças, além de abordar o enraizamento da problemática na sociedade.

Esse é o enredo de “Jeremias: Pele”, livro vencedor na categoria Melhor HQ do Prêmio Jabuti 2019. A obra, que faz parte do acervo do Leia Paraná, foi uma das escolhidas pela professora Andreza dos Santos Moreira na aplicação de um projeto de leitura para os alunos do ensino fundamental II da Escola Estadual Dona Carola, em Curitiba.

A atividade se demonstrou uma verdadeira estratégia de engajamento, a partir de tarefas propostas no decorrer da leitura do livro. Durante o trabalho, os alunos desenvolveram habilidades e competências importantes para a aprendizagem de modo lúdico e autônomo. “O projeto contribuiu para debates importantes acerca do racismo e se mostrou uma forma de metodologia ativa de ensino para engajar os alunos”, afirma Andreza.

Para o desenvolvimento da atividade, a escolha da temática a ser trabalhada (o racismo) foi essencial. “A ideia era fazer com que a leitura não se resumisse a ato de ler, apenas. Mas também que, a partir disso, habilidades e competências argumentativas, interpretativas e reflexivas também fossem desenvolvidas em sala”, revela a professora.

Para a fixação do conteúdo, uma atividade prática de livre escolha também foi proposta aos estudantes. “Adicionar elementos ou trabalhos práticos no projeto de leitura, como jogos, concursos ou premiações, são boas opções para engajar ainda mais os estudantes, além de possibilitar o desenvolvimento de habilidades cooperativas e promover a interação entre os colegas”, destaca.

RECONHECIMENTO – Para Ágata Cavalli, aluna do 9° ano que participou da atividade, a escolha para o projeto final foi a elaboração de um jogo de tabuleiro. Recontada a partir de perguntas e respostas, a história de Jeremias evolui a partir da apreensão do conteúdo do livro por parte dos alunos.

“Nós caprichamos na montagem do jogo. Fizemos uma maquete representando todo o contexto do personagem desde o começo da história, na cidade, até o espaço sideral, que era onde ele sonhava chegar como astronauta”, conta a estudante.

O trabalho foi destaque entre as turmas, recebendo, inclusive, o reconhecimento de um dos autores do livro, o escritor Rafael Calça. “A diretoria da escola postou algumas fotos do trabalho no Instagram, para que servisse como ideia para outros alunos. Foi um susto quando vi, nos comentários da postagem, o próprio autor do livro reconhecendo nosso trabalho e afirmando estar feliz com a repercussão da obra”, revela.

Para Ágata, ainda mais relevante que o reconhecimento foi a reflexão fomentada a partir da leitura e das discussões em sala acerca do tema. “Reforçar a importância do combate a essa violência e identificar atitudes preconceituosas tanto no ambiente escolar quanto na Internet são o caminho para uma nova cultura social. Falar sobre isso é obrigatório caso desejemos uma sociedade mais justa e igualitária para as próximas gerações”, completa.

Para o diretor da escola, Wagner de Oliveira, a tecnologia deve ser incorporada à educação e não encarada como “rival” no processo educacional. “A falta da leitura impacta a vida de um estudante de diferentes formas, entre elas a própria preparação para o futuro. É nosso papel difundir a leitura – seja física ou digital – em profundidade, estimular o senso crítico. O hábito de ler cria relação com a vida e, quando atrelado aos meios digitais, se torna essencial, uma vez que os estudantes estão inseridos de forma cada vez mais significativa nos ambientes de interação”, finaliza.

Da AEN

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